Repelentes ineficientes

Repelentes não alcançam os resultados esperados em testes

repelentes

A maioria dos repelentes contra o mosquito da dengue não protege pelo tempo descrito em seus rótulos, só por curto período. Foi o que constatou a Proteste Associação de Consumidores ao testar dez amostras de repelentes, cinco destinadas ao uso adulto/família e cinco ao uso infantil, além de dois aplicativos para celulares.

No caso dos produtos para crianças, os resultados também não foram muito animadores. Além da pouca proteção, distante do descrito no rótulo, foi verificado risco de efeitos adversos em caso de exposição aguda.

O pior resultado no quesito “proteção” entre os produtos infantis foi o da Turma da Mônica, cuja compra é desaconselhada porque não traz no rótulo a concentração do ativo IR3535 (único ativo repelente indicado para crianças abaixo de 2 anos). Dentre os produtos de uso infantil, apenas o Off! Kids tem tempo de proteção próximo ao informado no rótulo.

Conforme informações da associação de consumidores, devido às irregularidades constatadas no teste e diante da gravidade do avanço das epidemias de dengue e de zika vírus no país, a Proteste enviou os resultados para Ceras Johnson, Farmax – Distribuidora Amaral, Reckitt Benckiser (Brasil), K&G Indústria e Comércio, Nutracom Ind. e Com., Tec-Color Hair Cosméticos do Brasil e Universal Chemical, requerendo providências.

“Foi pedida a realização de um alerta público a respeito da eficácia correta dos repelentes, tanto no site das empresas quanto em jornais de grande circulação”, diz a nota. “E que as embalagens e/ou rótulos tragam de forma correta e visível o tempo real de eficácia dos produtos, respeitando o direito à informação, previsto no Código de Defesa do Consumidor”. A associação também pede que o tamanho das letras utilizadas nos rótulos possibilite a leitura das informações do produto, como indicação, modo de uso, composição, tempo de eficácia e validade, entre outras.

Caso as empresas não se adaptem, a Proteste encaminhará o caso à Vigilância Sanitária para as providências no âmbito administrativo e regulatório.

Em relação aos aplicativos para celular testados, a avaliação verificou que o uso é desaconselhado por não ter demonstrado nenhuma eficácia contra os mosquitos.

Os testes. Entre os produtos para uso familiar, o Exposis foi o que apresentou o melhor desempenho, protegendo por quase 3h contra o mosquito da dengue. Mas bem distante das 10h prometidas no seu rótulo. Seu uso, porém, deve ser feito com atenção em crianças até 3 anos, principalmente as mais sensíveis, pelo risco de causar efeitos adversos numa exposição aguda.

Já os produtos Super Repelex, Xô Inseto e Moskitoff foram eficazes contra a espécie de mosquito Culex, mas não tiveram o desempenho esperado contra a espécie Aedes aegypti, ou seja, apresentam curta proteção contra a dengue.

Quanto aos produtos de uso infantil, a Proteste explica que, apesar de alguns apresentarem concentrações de ativos repelentes superiores das amostras de uso familiar (considerando-se aqueles cuja composição contempla o Deet), elas não apresentaram bom desempenho na proteção contra o Aedes. Em relação ao Culex, apenas os produtos Johnsons Baby e Xô Inseto Kids foram eficazes.

No teste de eficácia, foi verificado por quanto tempo cada produto é capaz de proteger conta a picada dos mosquitos das espécies Culex Quinquefasciatus eAedes aegypti. Também foram verificados a veracidade da informação da rotulagem e os riscos de exposição aguda e crônica aos repelentes.

Minas Gerais
Zika e microcefalia.
 A Secretaria de Estado da Saúde informou nesta quinta que foram notificados 10 casos de microcefalia para investigar a associação com o zika vírus em recém-nascidos, em Belo Horizonte. Desses, três casos são de residentes na capital. Outros sete casos são de residentes em outros municípios.

 

testes

Fabricantes contestam método

As empresas responsáveis pela produção de cada um dos repelentes se manifestaram, por meio de nota, à imprensa e à organização Proteste. Todas elas rebateram o resultado obtido pela associação afirmando que os produtos passaram por todos os testes determinados pela Anvisa.

A Reckit Benckiser, fabricante do Super Repelex, e a Nutracom, do Xô Inseto, afirmaram desconhecer os testes realizados. “Não tivemos acesso a detalhes do estudo feito pela Proteste, apenas aos resultados divulgados”, informa a nota da Reckit Benckister. Assim, segundo eles, não têm como comentar as conclusões.

A fabricante do Moskitoff, Farmax, contestou os resultados dos testes, e a Universal Chemicals, fabricante do Exposis (repelente mais procurado em todo o Brasil por seu maior tempo de ação), contestou a capacidade de a associação realizar os testes.

“Desconhecemos a capacidade e o conhecimento técnico-científico dessa empresa. O Exposis já foi re-testado, ratificando a aprovação para dez horas de proteção”. A SC Johnson, que fabrica o Off Family, frisou que o tempo de eficácia de duas horas descrito no rótulo do produto foi comprovado por um laboratório independente.

Produto sozinho não garante proteção

Brasília.A principal orientação do Ministério da Saúde para evitar o contágio pelo zika vírus, transmitido pelo Aedes Aegypti, é o uso tópico do repelente industrial. O produto, no entanto, não é 100% eficaz e deve ser utilizado junto com outras medidas preventivas, segundo especialistas de diferentes áreas médicas.

Coordenador dos testes da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan, o professor de imunologia e alergia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Esper Kallas é taxativo: o repelente industrial é o meio de combate mais adequado ao mosquito, mas não faz “milagres”.

De acordo com o pesquisador, produtos anti-insetos como os repelentes de tomada também auxiliam, mas têm a mesma eficácia, por exemplo, de ações caseiras de efeito passageiro como velas ou essências de citronela. “São medidas que ajudam, mas não eliminam o risco da picada”.

O ideal é adotar um conjunto de atitudes, iniciado pela erradicação de focos de criadouro do mosquito em sua casa. Roupas compridas, mosquiteiro em berços e até tela nas janelas podem ajudar.

Os mais eficientes. Coordenadora da Sociedade Brasileira de Infectologia e professora da Unifesp, a infectologista Nancy Bellei diz que os repelentes naturais agem por cerca de 20 minutos e evaporam. Os industriais têm duração um pouco maior, mas apenas aqueles à base de icaridina ou picaridina funcionam realmente contra o Aedes.

“Os demais repelentes industriais ou são facilmente absorvidos pelo organismo, ou têm concentrações muito baixas do produto ativo permitido no Brasil”, explica a infectologista Nancy Bellei.

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